24 de março de 2013

Como parar de adiar as coisas

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Vamos começar uma pequena série neste blog com algumas dicas – comprovadas pela ciência e recomendadas por especialistas – para ajudar você a cumprir aquelas promessas que listou no Ano-Novo. O primeiro objetivo será algo que, se não estiver na lista da maior parte das pessoas, pelo menos vai ajudá-las a cumprir outras promessas: parar de adiar as coisas – ou, para ser mais exata, acabar com a procrastinação.
Por Ana Carolina Prado (SuperInteressante)



“Tabulando inúmeras pesquisas, cerca de 95% pessoas admitem adiar as coisas, com cerca de 25% delas indicando que essa é uma característica crônica, definidora de sua personalidade”, diz o pesquisador Piers Steel, um dos mais famosos especialistas no tema, em seu livro “A equação de deixar para depois”. Para esse trabalho, ele analisou mais de 800 artigos científicos sobre a procrastinação e desenvolveu sua própria pesquisa, o que o ajudou a chegar tanto ao motivo por que adiamos as coisas quanto a métodos que podemos usar para diminuir esse hábito.

No geral, existe um fator que ajuda a explicar por que fazemos isso. Há quem acredite que tem a ver com o perfeccionismo: a pessoa, ansiosa demais em tentar fazer um trabalho perfeito, acabaria protelando indefinidamente achando que, em outra ocasião, teria condições mais adequadas para realizá-lo. Embora possa confortar os procrastinadores (afinal, o perfeccionismo é muitas vezes uma daquelas características que as pessoas adoram usar quando perguntam qual o seu maior ‘defeito’), isso não é verdade.


Dos milhares de procrastinadores já estudados, apenas um grupo ínfimo mostrou ser perfeccionista. Na verdade, o psicólogo e terapeuta Robert Slaney, criador de uma escala para medir o perfeccionismo, descobriu que essas pessoas tinham menos probabilidade de adiar do que os não-perfeccionistas, e não mais. Por que é que eles levaram a fama, então? Segundo Steel, é simples: os perfeccionistas que adiam as coisas têm mais probabilidade de procurar a ajuda de um terapeuta (já que se tendem a se sentir pior com os efeitos dos atrasos) e, assim, acabam aparecendo mais vezes nas pesquisas clínicas sobre adiamentos. Já os proteladores não perfeccionistas são menos propensos a procurar ajuda profissional.

Ok, mas se a razão não é o perfeccionismo, qual seria, então? Piers Steel responde:
“Trinta anos de estudos e centenas de pesquisas isolaram várias características de personalidade que servem para prever protelações, mas uma delas de destaca (…): a impulsividade, isto é, viver impacientemente o momento e querer tudo de imediato. Demonstrar autocontrole ou adiar uma recompensa é difícil para as pessoas impulsivas.”
Algumas tarefas causam ansiedade em todo mundo, mas a impulsividade influencia muito a forma como cada um de nós lida com isso. Ela geralmente faz os menos impulsivos quererem começar logo o projeto em questão. Já para os mais impulsivos pode ocorrer o oposto e eles acabam caindo na procrastinação.
“Os impulsivos tentam evitar temporariamente uma tarefa que gera ansiedade ou tirá-la da consciência, uma tática que é absolutamente perfeita, se você pensar no curto prazo. Além disso, a impulsividade faz com que os proteladores sejam desorganizados e distraídos ou (…) os faz sofrer de pouco controle sobre os impulsos, falta de persistência, falta de disciplina no trabalho, incapacidade de gerenciar bem o tempo e incapacidade de trabalhar metodicamente. Em outras palavras, acham difícil planejar seu trabalho antes da hora, e mesmo depois que começam, se distraem facilmente.”
O otimismo excessivo é outro fator que ajuda a atrapalhar sua vida. Ele pode levar à “falácia do planejamento”, que é quando as pessoas calculam mal o tempo que levarão para executar uma tarefa – e, assim, atrasam o seu início. É como quando você diz “posso escrever meu relatório em meia hora, então não preciso começar tão cedo” e acaba descobrindo, dez minutos antes do prazo acabar, que a coisa é bem mais demorada do que você imaginou.
E aí, se identificou? Então, agora que você entendeu um pouco melhor as causas do problema,  vamos às dicas para que consiga vencê-lo. Papel e caneta na mão:
    • Determine o que pode dar errado e distraí-lo no caminho para o seu objetivo e tome medidas para evitar essas coisas. Por exemplo, se seu problema for ficar no Facebook, desligue seu smartphone para não receber notificações e nem abra o site até terminar seu trabalho. Ou, se puder, desligue a sua conexão com a internet.
    • Faça uma lista das maneiras como você normalmente adia as coisas e pregue-a em seu local de trabalho.
    • Admita que você é viciado em atrasos. Faça uma pausa para refletir sobre quantas vezes já adiou os seus planos e entrou numa enrascada por causa disso. Comece a fazer um registro diário para monitorar esse hábito.
    • Admita que você vai tentar se enganar de novo, pensando coisas como “vou checar o Facebook antes de terminar meu trabalho, mas vai ser só mais desta vez”. Isso vai acontecer muuuitas vezes, ainda. Tente não se deixar enganar.
    • Aceite o fato de que o primeiro atraso permite que você justifique todos os seguintes. Fazendo isso, você vai ter muito menos chance de dar o primeiro passo.
    • Tire tempo para reconhecer e recompensar seu progresso. Faça uma lista das recompensas que pode se dar, como comprar aquele game que tanto queria, uma roupa nova ou uma cerveja com os amigos.
    • Reserve um tempo para o lazer. Ninguém consegue passar 100% do tempo trabalhando – ter um tempo para fazer as coisas de que se gosta é essencial. Assim, satisfaça suas necessidades antes que elas se tornem intensas demais e o distraiam de seu trabalho. Só saiba equilibrar bem o tempo.
    • Ao se confrontar com tentações que o distraiam, concentre-se em aspectos que as façam menos atraentes. Por exemplo, se bateu aquela vontade de comer aquela torta de chocolate, pense nela como uma simples mistura de gordura e açúcar.
    • Quando possível, separe bem seu lugar de trabalho e o de lazer – e deixe o espaço de trabalho o mais organizado possível para evitar distrações. Se quiser, decore-o com mensagens ou imagens que façam você se lembrar de seus objetivos e de por que está trabalhando.
    • E, o mais importante (é, deixamos o melhor para o final): estabeleça metas precisas, de modo que você saiba exatamente quando terá de atingi-las e o que terá de fazer para isso. Por exemplo, em vez de dizer “Vou fazer meu relatório de despesas”, sua meta precisa ser “Juntar todos os meus recibos, agrupá-los e registrá-los até amanhã, na hora do almoço”. Viu a diferença? Quando o objetivo for complexo, divida-o em pequenas metas de curto prazo que o ajude a chegar lá.
    • Estabeleça rotinas e inclua suas metas aí.A rotina é sua amiga e o ajudará a criar bons hábitos, se você se permitir. Assim, abra a sua agenda e marque as tarefas que terá sempre de realizar.

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